Você está em Material de apoio > Modernismo

Autores modernistas da terceira fase (continuação)

João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife, Pernambuco, no ano de 1920. Foi poeta, autor, tradutor e diplomata.

Até os dez anos de idade viveu em engenhos de açúcar em São Lourenço da Mata e Moreno, na Zona da Mata pernambucana. Ao voltar para Recife, estudou no colégio dos irmãos maristas até 1935.

Quando completou 22 anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro e publicou seu primeiro livro de poemas, Pedra do Sono.


João Cabral de Melo Neto, Recife (Pernambuco), 1920 - 1999


Obra Pedra do Sono

No ano de 1945, ingressou no Itamaraty. Em 1947, vai à Espanha, sendo o responsável pela divulgação da cultura brasileira. Foi cônsul na Inglaterra, França, Espanha, Suíça, África e países da América Latina. Voltou a residir no Rio de Janeiro em 1987 e aposentou-se do Itamaraty no ano de 1990.


João Cabral de Melo Neto

No ano de 1968, João Cabral de Melo Neto foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), tomando posse em 6 de maio de 1969.


João Cabral de Melo Neto na Academia Brasileira de Letras

Paralelamente a sua trajetória como diplomata, ocorreu sua produção literária e por ela foi agraciado com numerosos prêmios, entre eles: Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo (1954); Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1955); Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio Bienal Nestlé, pelo conjunto da Obra e Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro "Crime na Calle Relator" (1988).

João Cabral de Melo Neto foi o primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, em 1990. Dois anos após, é premiado com o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma, Estados Unidos. João Cabral de Melo Neto faleceu no dia 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, aos 79 anos.


No Recife, estátua em homenagem a João Cabral de Melo Neto

Principais obras

Poesia: Pedra do Sono (1942); O Engenheiro (1945); Psicologia da Composição, Fábula de Angion e Antiode (1947); O Cão sem Plumas (1945); O Rio (1954); Duas Águas, Morte e Vida Severina, Paisagens com Figuras e Uma Faca só Lâmina (1956); Quaderna (1960); Dois Parlamentos (1961); Terceira Feira (1961); A Educação pela Pedra (1966); Poesias Completas (1940-1965), (1968); Museu de Tudo (1976); Escola das Facas (1981); Serial e Antes e A Educação Pela Pedra e Depois (1997).


Capa primeira edição de Morte e Vida Severina


Obra A Educação pela Pedra

Prosa:  Considerações sobre o Poeta Dormindo (1950); Joan Miró (1950).


Obra Joan Miró

Vale a pena saber mais:

Suas poesias não seguiram a tendência neoparnasiana de sua época. Seus textos são caracterizados por rigor formal, construindo uma expressão poética mais disciplinada, apresentando precisão das palavras, produzindo uma poesia de caráter objetivo com uma linguagem sem sentimentalismo e rompendo com a definição de "poesia profunda" utilizada até então.

Todo seu trabalho é marcado pela preocupação formal. Em alguns poemas se observam imagens surrealistas que exigem certo conhecimento para seu pleno entendimento. Observe as características no poema que faz parte da obra Pedra do sono:

Noturno
O mar soprava sinos
os sinos secavam as flores
as flores eram cabeças de santos
Minha memória cheia de palavras
meus pensamentos procurando fantasmas
”meus pesadelos atrasados de muitas noites

De madrugada,meus pensamentos soltos
”voaram como telegramas
e nas janelas acesas toda a noite
o retrato da morta
fez esforços desesperados para fugir.

Tal rigor literário o manteve afastado do gosto do público médio até a publicação de Morte e vida Severina (1956), um Auto de natal pernambucano encenado pelo teatro da PUC de São Paulo, no ano de 1966, com música de Chico Buarque.


Divulgação Auto de natal baseado na obra Morte e vida Severina

Observe o trecho da obra Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto/música de Chico Buarque:
"Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."

As poesias de João Cabral de Melo Neto falam sobre o Nordeste e Espanha, onde morou e cuja paisagem por vezes aproxima a nordestina, e sobre a própria poesia. No trecho do poema Antiode (contra a poesia dita profunda), extraída da obra Psicologia da Composição, de 1947, é possível observar a metalinguagem e todas as características do estilo de João Cabral.

Observe:
A
Poesia te escrevia:
flor! conhecendo
que és fezes. Fezes
como qualquer.
gerando cogumelos
(raros, fragéis, cogu-
melos) no úmido
calor de nossa boca.
Delicado, escrevia:
flor! (Cogumelos
serão flor? Espécie
estranha, espécie
extinta de flor, flor
ão de todo flor,
mas flor, bolha
aberta no maduro)
Delicado, evitava
o estrume do poema,
seu caule, seu ovário,
suas intestinações.
Esperava as puras,
transparentes florações,
nascidas do ar, no ar,
como as brisas.

João Cabral de Melo Neto é considerado pelos críticos como o melhor poeta brasileiro dessa fase do Modernismo.  


João Cabral de Melo Neto - um dos poetas mais consagrados do Brasil por seus versos simples e despojados

  
Como referenciar: "João Cabral de Melo Neto" em Só Literatura. Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2024. Consultado em 27/04/2024 às 11:38. Disponível na Internet em http://www.soliteratura.com.br/modernismo/modernismo22.php